segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Mecanismos de evasão

SEXTA PARTE
 MATURIDADE PSICOLÓGICA

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Mecanismos de evasão

A larga infância psicológica das criaturas é dos mais gra­ves problemas, na área do comportamento humano.
Habituada, a criança, a ter as suas necessidades e anseios resolvidos, imaturamente, pelos adultos — pais, educadores, familiares, amigos — ou atendidos pela violência do clã e da sociedade, nega-se a crescer, evitando as responsabilidades que enfrentará.
No primeiro caso, porque tudo lhe chega às mãos de for­ma fácil, dilata o período infantil, acreditando que a vida não passa de um joguete e o seu estágio egocêntrico deve perma­necer, embora a mudança de identidade biológica, de que mal se dá conta.
Mimada, acomoda-se a exigir e ter, recusando-se o esfor­ço bem dirigido para a construção de uma personalidade equi­librada, capaz de enfrentar os desafios da vida, que lhe che­gam, a pouco e pouco.
Acreditando-se credora de todos os direitos, cria meca­nismos inconscientes de evasão dos deveres, reagindo a eles pelas mais variadas como ridículas formas de atitude, nas quais demonstra a prevalência do período infantil.
No segundo caso, sentindo-se defraudada pelo que lhe foi oferecido com má vontade e azedume ou sistematicamente negado, a criança se transfere de uma para outra faixa etária, sem abandonar as seqüelas da sua castração, buscando reali­zar os desejos sufocados, mas, vivos, quando lhe surja a opor­tunidade.
Em ambos acontecimentos, o desenvolvimento emocio­nal não corresponde ao físico e ao intelectual, que não são afetados pelos fenômenos psicológicos da imaturidade.
Excepcionalmente, pode suceder que o alargamento do período infantil, por privação dos sentimentos e pelas angús­tias, produza distúrbios na saúde física como na mental, ge­rando dilacerações profundas, difíceis de serem sanadas.
Na generalidade, porém, o que sucede são as apresenta­ções de adulto susceptível, medroso, instável, ciumento, que não superou a crise da infância, nela permanecendo sob con­flitos lastimáveis.
As figuras domésticas representadas pelo pai e pela mãe permanecem em atividade emocional, no inconsciente, re­solvendo os problemas ou atemorizando o indivíduo, que se refugia em mecanismos desculpistas para não lutar, manten­do-se distante de tudo quanto possa gerar decisão, envolvi­mento responsável, enfrentamento.
Fugindo das situações que exigem definição, parte para as formulações e comportamentos parasitas, buscando nas pessoas que considera fortes e são elegidas como seus heróis ou seus superiores, porqüanto, tudo que elas empreendem se apresenta coroado de êxito.
Não se dá conta da luta que travam, das renúncias e sacri­fícios que se impõem. Esta parte, não lhe interessa, ficando propositadamente ignorada.
Como efeito cresce-lhe a área dos conflitos da personali­dade, com predominância da autocompaixão, num esforço egoísta de receber carinho e assistência, sem a consciência da necessidade de retribuição.
Não lhe amadurecendo os sentimentos da solidariedade e do dever, crê-se merecedor de tudo, em detrimento do esfor­ço de ser útil ao próximo e à comunidade, esquecendo-se das falsas necessidades para tornar-se elemento de produção em favor do bem geral.
Instável emocionalmente, ama como fuga, buscando apoio, e transfere para a pessoa querida as responsabilidades e preocupações que lhe são pertinentes, tornando o vínculo afetivo insuportável para o eleito.
Outras vezes, a imaturidade psicológica reage pela forma de violência, de agressividade, decorrentes dos caprichos in­fantis que a vida, no relacionamento social, não pode aten­der.
Uma peculiar insensibilidade emocional domina o indi­víduo, que se desloca, por evasão psicológica, do ambiente e das pessoas com quem convive, poupando-se a aflições e somente considerando os próprios problemas, que o como­vem, ante a frieza que exterioriza quando em relação aos so­frimentos do próximo.
O homem nasceu para a auto-realização, e faz parte do grupo social no qual se encontra, a fim de promovê-lo cres­cendo com ele. Os problemas devem constituir-lhe meio de desenvolvimento, em razão de serem-lhe estímulos-desafios, sem os quais o tédio se lhe instalaria nos painéis da atividade, desmotivando-o para a luta.
Desse modo, são parte integrante da estruturação mental e emocional, responsáveis pelos esforços do próximo e do grupo em conjunto, para a sobrevivência de todos.
O solitário é prejuízo e dano na economia social, pertur­bando a coletividade.
Fatores que precedem ao berço, presentes na historiogra­fia do homem, decorrentes das suas existências anteriores, situam-no, no curso dos renascimentos, em lares e junto aos pais de quem necessita, a fim de superar as dívidas, desen­volver os recursos que lhe são inerentes e lhe estão adorme­cidos, dando campo à fraternidade que deve viger em todos os seus atos.
Assim, cumpre-lhe libertar-se da infância psicológica, mediante as terapias competentes, que o desalgemam dos condicionamentos perniciosos, ao mesmo tempo trabalhan­do-lhe a vontade, para assumir as responsabilidades que fa­zem parte de cada período do desenvolvimento físico e inte­lectual da vida.
Partindo de decisões mais simples, o exercício de ações responsáveis, nas quais o insucesso faz parte dos empreendi­mentos, o homem deve evitar os mecanismos de evasão, as­sim como as justificativas sem sentido, tais: não tenho culpa, não estou acostumado, nada comigo dá certo, aí ocultando a sua realidade de aprendiz, para evitar as outras tentativas que certamente se farão coroar de êxitos.
A experiência do triunfo é lograda através de sucessivos erros. O acerto, nos primeiros tentames, não significa a segu­rança de continuados resultados positivos.
Em todas as áreas do comportamento estão presentes a glória e o fracasso, como expressões do mesmo empreendi­mento.
A fixação de qualquer aprendizagem dá-se mediante as tentativas frustradas ou não. Assim, vencer o desafio é esfor­co que resulta da perseverança, da repetição, sem enfado nem cansaço.
Toda fuga psicológica contribui para a manutenção do medo da realidade, não levando a lugar algum. Mediante sua usança, aumentam os receios de luta, complicam-se os meca­nismos de subestima pessoal e desconsideração pelos própri­os valores.
O homem, no entanto, possui recursos inesgotáveis que estão ao alcance do esforço pessoal.
Aquele que se demora somente na contemplação do que deve fazer, porém, não se anima a realizá-lo, perde excelente oportunidade de desvendar-se, desenvolvendo as capacida­des adormecidas que o podem brindar com segurança e reali­zação interior.
Todo o esforço a ser envidado, em favor da libertação dos mecanismos de fuga, contribui para apressar o equilíbrio emocional, o amadurecimento psicológico, de modo a assu­mir a sua humanidade, que é a característica definidora do indivíduo: sua memória, seus valores, seus atos, seu pensa­mento.
A fuga, portanto, consciente ou não, no comportamento psicológico, deve ser abolida, por incondizente com a lei do progresso, sob a qual todas as pessoas se encontram submeti­das pela fatalidade da evolução.


 O HOMEM INTEGRAL
DIVALDO PEREIRA FRANCO

DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS

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