quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

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Fonte:http://www.febnet.org.br/
 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O mundo precisa de histórias felizes

Mulher abrigou mais de mil presos considerados perigosos e acha que fez pouco
O modelo de ressocialização de presos criado por dona Maria se transformou no Patronato Lima Drummond.
Por olhos clarinhos por causa do tempo, passam tantas lembranças, tanta coragem, tanta solidariedade. Por caminhos protegidos por árvores, passam tantos homens, tantas histórias, tanta superação.
Histórias de gente que pouca gente quer por perto, mas que em um casarão encontraram alguém que deu a mão, porque não acreditava que eles eram irrecuperáveis. Acreditava sim, na bondade deles.
Nem todo mundo abre as portas de casa para receber desconhecidos. Ainda mais quando esses desconhecidos foram condenados porque cometeram algum tipo de crime. Parece impossível, mas acredite: foi o que uma mulher fez sozinha em 1941. Uma atitude corajosa e fora dos padrões para a época. Esse ato de generosidade ajudou a recuperar milhares de homens.
O nome dela é Maria Ribeiro da Silva Tavares. Idade: 102 anos. Uma mulher adiante do seu tempo. A dona Maria foi a primeira mulher a entrar em uma penitenciária no Rio Grande do Sul para ajudar.
Viúva, com 24 anos e dois filhos para criar, conseguiu convencer as autoridades. Tirou 36 detentos do regime semiaberto. Levou para casa e ajudou cada um a encontrar trabalho.
Globo Repórter: Nunca teve medo?
Maria Tavares: Não. Medo de quê? Todos são bons.
Dona Maria sempre escolheu os presos mais perigosos e tirou deles, homens marginalizados, o que tinham de melhor. É o caso de um homem que não quis se identificar.
Ele era um criminoso de alta periculosidade, passou quatro anos em regime fechado e foi para o semiaberto. Fugiu duas vezes. Mas um dia recebeu um convite de dona Maria Tavares para irem juntos a uma missa.
“Ela falou que a pessoa, por mais ruim que seja, tem algo de bom dentro dela. Falando uma palavra assim, bonita, acho que dá uma linha para pessoa já pescar e já começar a fazer as coisas direito, caminhar pelo caminho mais correto”, avalia o homem.
Era o início de uma nova vida. O homem considerado perigoso tirou documentos, arranjou emprego e reencontrou a família de oito filhos.
Globo Repórter: Foi ela que localizou, que ajudou a localizar todos os seus filhos?
Homem: Sim, foi a dona Maria.
Globo Repórter: O que você sente por ela?
Homem: A dona Maria... O que dá pra dizer? Acho que dá pra dizer que eh a segunda mãe, com certeza. Não se começa nada sozinho. Com todo esse apoio da dona Maria eu aprendi a ser generoso comigo mesmo.

O modelo de ressocialização de presos criado por dona Maria se transformou no Patronato Lima Drummond. Parece ser uma casa comum, com um enorme pátio. As grades no corredor que dá acesso aos quartos nem parecem que estão lá por questões de segurança.
O albergue tem os menores índices de fugas, quando comparado a outras casas prisionais. Hoje são os funcionários da superintendência de serviços penitenciários que cuidam dos 76 presos.
“Aqui a gente entra dentro do Patronato e, com a presença física da dona Maria, nós já temos um olhar diferente para com o preso. Nosso trabalho aqui, no momento em que recebemos ele, sem se preocupar com o que  ele fez lá fora, tratamos ele como cidadão, orientando, encaminhando para trabalho. É uma vida aqui para fora. Aí ele é cobrado”, conta Sirlei Hahn, diretora da Fundação Patronato Lima Drummond.
Muitos ex-detentos nunca mais se desligaram do patronato e da dona Maria. Sempre voltam, como quem visita a família.
Sérgio Scola, detento em regime aberto: Marcou a minha vida. A gente não vê as pessoas fazerem isso. A história de ela ser a primeira assistente social a entrar num presídio naquela época, trazer os presos para dentro da casa dela! A gente fica pensando isso tem que ser alguma coisa dada por Deus para ter essa iniciativa que nem a da dona Maria.
Globo Repórter: Não parece verdade, não é?
Sérgio Scola: É, não parece verdade. É muito bom assim. O patronato marcou muito a minha vida, porque, quando sai de lá assim, sai meio assustado, não sabe como você vai encarar o mundo, porque lá é um outro mundo.
E assim segue a vida no casarão que mais do que um símbolo do tempo de abundância é um símbolo de amor e generosidade ao outro. Hoje em dia, dona Maria não tem mais dinheiro e espera restauração desse patrimônio espiritual.
Os olhos de dona Maria continuam a observar tudo por lá. Ela mora em uma casinha azul construída dentro do albergue e, mesmo com a saúde frágil, de cadeira de rodas, ainda participa da vida da instituição.
Roberto Sotello, ex-presidário há 14 anos, é o cuidador de dona Maria.
Globo Repórter: A senhora fez o que queria na vida?
Dona Maria: Mais ou menos.
Globo Repórter: O que faltou?
Dona Maria: Terminar aqueles que eu não pude ajudar.
Globo Repórter: Do que a senhora gosta?
Dona Maria: De ver o bem. Aqueles que estiveram mal e agora fazem o bem.
Roberto Sotello: É fácil se emocionar com a senhora?
Dona Maria: Por quê?
Roberto Sotello: Tanta coisa boa que a senhora faz para gente...
Dona Maria: O que eu fiz?
Roberto Sotello: O que a senhora fez? A senhora recuperou muita gente.
Dona Maria: Tem muitos que eu falhei.
Roberto Sotello: Não falhou, não. A senhora está sendo modesta, a senhora está ajudando ainda.
Percorrendo os caminhos do albergue, é possível ver as paredes de uma pequena capelinha. Diz a lenda que dona Maria só pretende partir depois que ela estiver pronta. E todos torcem por lá para que esta obra nunca termine.

Veja o vídeo (fonte): http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/12/mulher-abrigou-mais-de-mil-presos-considerados-perigosos-e-acha-que-fez-pouco.html